À medida que a população mundial envelhece e a expectativa de vida aumenta, diversos segmentos, incluído o mercado imobiliário se movimentam para atender às demandas de quem tem mais de 60 anos. Um dos desafios que ainda precisam ser equacionados, no entanto, é que essa população é diversa e possui diferentes desejos e necessidades, de acordo com a fase da vida.
Outro aspecto importante da terceira idade hoje é o da autonomia: ao contrário do que prega o senso comum, são poucas as pessoas mais velhas que dependem de cuidados de terceiros.
Nos Estados Unidos, por exemplo, somente 4% das pessoas com mais de 65 anos estão em ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos), de acordo com o Censo Populacional do governo americano. Dessas, 10% têm mais de 85 anos e mais da metade dá conta de suas atividades do dia a dia com autonomia.
Apesar das estatísticas, a ideia da velhice ainda assombra muita gente. Uma pesquisa feita em 2015 pelo Instituto Qualibest por encomenda da Pfizer constatou que 90% da população brasileira tem medo de envelhecer, sendo que 77% disseram temer as complicações de saúde e 72% se preocupam com possíveis limitações físicas.
Entre os mais velhos, a angústia é outra. Em 2017, um levantamento da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia seccional São Paulo (SBGG/SP) feito em parceria com a Bayer mostrou que a maior preocupação do idoso é acabar sozinho.
De olho nessas questões e com o intuito de quebrar tabus e mudar a cultura do envelhecimento, especialistas e empreendedores do mercado imobiliário estão transformando o conceito de moradia na terceira idade ao trazer a qualidade de vida e o senso de comunidade para o centro do debate.
“Arquitetura para a longevidade é diferente de acessibilidade”, afirma a arquiteta e urbanista Lilian Lubochinski, que apresentou o tema no Congresso da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia já em 1988. “Acessibilidade é norma universal, inclui todas as diversidades e fases da vida, deveria estar em todos os lugares. Já a arquitetura para a velhice é construir arranjos espaciais que favorecem esse período da vida”, explica.
Segundo a especialista, hoje com 73 anos, a cultura hegemônica vê a velhice como um fantasma, fechando o idoso em um aposento daí o termo “aposentado” e essa é uma das causas da questão epidêmica da solidão. “A pessoa se aposenta e às vezes se separa, se isola. Aí adoece e morre”, observa.
“Meu público se constitui 90% de mulheres preocupadas com o desenho que querem para essa fase da vida. E isso envolve não o isolamento, mas companheirismo, amizade e atividade. Já tem soluções arquitetônicas aparecendo, entendendo que esse é um dos males da sociedade industrial.”
A arquiteta está começando a desenhar os primeiros projetos de co-lares (do inglês cohousing) do Brasil e fala que a vulnerabilidade inerente à velhice pode ser substancialmente reduzida com o resgate da ideia de comunidades como vilarejos, quilombos e aldeias de povos originários.
“A proposta acaba equacionando a questão do adoecimento mental porque as pessoas ficam ativas socialmente e na governança do lugar. Tem uma quebra brutal nos indicadores de demência”, explica.
“No cohousing colaborativo, as estruturas são mais favorecedoras da convivência. É uma vizinhança que se conhece e se reconhece, existe um vínculo de confiança. O grande desafio é criar serviços públicos e sociais que favoreçam essa convivência, com diferentes tipologias para atender à diversidade das demandas.”
Foco em serviços para os 60+
Fontoura afirma que há inclusive um estudo preliminar que estima que hoje o Brasil já tem potencial latente para cerca de 1 milhão de camas em senior livings distribuídas por 8 mil comunidades. “Isso indica a existência de um potencial pronto, bastando que os players e empreendedores comecem a distribuir essa oferta por mais cidades”, aponta, lembrando que os senior livings em diferentes formatos acabam se relacionando com o conceito de cidade de 15 minutos, que aproxima serviços essenciais e a oferta de mais qualidade de vida. “É o conceito do novo urbanismo, em que você vai morar, trabalhar e resolver as suas questões relativas a serviços, saúde, educação, lazer, socialização e diversão no mesmo lugar”, define. “Principalmente falando dos idosos independentes, eles não querem de jeito nenhum viver em comunidades isoladas e afastadas; querem estar presentes nas dinâmicas da sociedade e nos acontecimentos, com qualidade e conforto.”
O especialista diz também que estamos ainda atravessando um processo de transformação, mas que os dados são claros. “Um dos pilares mais importantes para a viabilidade desse conceito de negócio é como encontrar meios de disponibilizar comunidades de senior living para todos os segmentos sociais”, afirma. “Estamos ainda num momento incipiente do desenvolvimento desse produto, então evidentemente começa pelo topo da pirâmide, com preços mais restritivos. A questão é como criar produtos economicamente mais viáveis, de modo a atender a segmentos intermediários.”
Batizado de Gran Life, o empreendimento extrapola as estruturas básicas de um prédio convencional, com área de lazer completa, para oferecer também um shopping com foco especial em serviços, inclusive os de saúde haverá um hospital de alta complexidade no local, com consultoria do Sírio Libanês. O projeto prevê ainda uma torre com salas comerciais voltadas para profissionais da área.
Marques destaca que a maior expectativa de vida trouxe ao público sênior uma nova visão de si mesmo e de sua atual fase como uma oportunidade para desfrutar da vida com muito mais consciência. “Trata-se de uma etapa de vida ativa em que os filhos já estão criados, a vida profissional já avançada ou concluída, e agora há tempo para desfrutar da vida e dos relacionamentos”, argumenta. “Por outro lado, sabem que não há tempo a perder com o que não soma, não acrescenta. Então entram em cena a praticidade, o conforto e a objetividade, princípios que aparecem também nos projetos imobiliários que desejam alcançar esse público.”
O projeto voltado à terceira idade terá 50 mil metros quadrados e 250 lofts de alto padrão, com uma ou duas suítes, exclusivamente para locação. “Todo o projeto visa manter a autonomia, mobilidade, conforto e segurança, além de cuidados médicos preventivos 24 horas dos moradores”, salienta Marcos Franco, diretor de engenharia da incorporadora.
Além de oferecer monitoramento 24 horas de todos os sinais vitais dos moradores, o condomínio vai contar com enfermaria, nutricionista e sessões de fisioterapia.
Complementam o menu de serviços elementos de praticidade e bem-estar, como governança diária, restaurante, academia de ginástica, clube completo com piscinas térmicas, salão de jogos com carteado e mesas de sinuca, quadras de tênis, centro de recreação com animadores e programação diária de entretenimento, pista de cooper e ciclovia, cinema, centro “relax” com spa e massagem e aulas de yoga, tai-chi-chuan e dança de salão, entre outros.
Fonte: Estadão | Junho 2022
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