A área que o OMA vai fazer a cidade sem carro tem 4,6 quilômetros quadrados, o equivalente a 400 hectares ou 370 campos de futebol. É um espaço de ciência e alta tecnologia. Lá serão construídos 6 conjuntos de prédios para as seguintes funções: universidade, moradia, laboratórios, mercado, espaço público e prédios governamentais. Como se trata de uma área relativamente pequena para os padrões chineses, não é uma divisão similar à de Brasília, com áreas reservadas para moradia, comércio, diversão e embaixadas. Tudo está a 10 minutos de distância, a pé. Quem preferir pode usar bondes elétricos. A população planejada é de 22.000 habitantes, mas a área deve receber diariamente 90.000 pessoas.
A nova cidade deve ficar pronta em 2023, ao custo de US$ 1 bilhão, aproximadamente, uma pechincha para os padrões ocidentais. Todos os recursos são públicos na primeira fase do projeto.
A intenção do OMA é enterrar o urbanismo modernista, do qual Brasília talvez seja o melhor exemplo por privilegiar o carro e praticamente ignorar espaços para caminhadas que não sejam esportivas. Não haverá grandes avenidas. Apenas caminhos para pedestre ou ruas para transporte público automatizado, com veículos sem motorista. “Com esse projeto, esperamos fornecer uma alternativa para o típico plano diretor baseado na tradicional rede de avenidas orientadas para o carro”, disse um dos parceiros do OMA no projeto, o arquiteto holandês Chris van Duijin, após o anúncio do projeto vencedor, no último dia 2.
Como não há grandes avenidas, o foco do projeto é na geografia do terreno. O projeto vencedor preserva morros, como acontecia com a arquitetura tradicional chinesa dessa região, com seus palácios e casas construídos em tabuleiros nas encostas e se confundindo com a natureza. Não há nostalgia para os grides de ruas quadriculados. “Esperamos que a conexão entre arquitetura e paisagem resulte numa dinâmica ambiental para a educação que inspire ideias inovadoras”, afirma Van Duijin.
A aposta da China em confrontar o Ocidente com arquitetura e urbanismo de alto nível começou com as Olimpíadas de Pequim, em 2008. Dois dos prédios construídos para os Jogos Olímpicos estavam entre os mais inovadores do mundo, segundo o crítico de arquitetura da revista New Yorker, Paul Goldberger. São o Estádio Nacional, conhecido como Ninho de Pássaro, um projeto dos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron junto com o artista plástico Ai Wei Wei, e o Centro Nacional de Esportes Náuticos, similar a um cubo d’água, criado pelo escritório australiano PTW Architects.
O Politiburo chinês, os 8 dirigentes do Partido Comunista que dirige o país, percebeu que arquitetura era uma das linguagens que mudariam a imagem da China. De miseráveis passaram a ser vistos como vanguardistas. Todos os grandes arquitetos famosos do Ocidente e do Japão têm obras de grande porte na China.
Chengdu era conhecida como a terra dos pandas gigantes, mas agora ficou famosa também por tentar uma espécie de Disneylândia da arquitetura contemporânea. Lá será construída a primeira linha de metrô totalmente automatizada, projeto do escritório J&A Sepanta Design, uma junção de um escritório chinês (J&A) com um inglês (Sepanta). A reserva dos pandas está sendo recriada pelo estúdio Sasaki, que tem estúdios em Boston, Denver e Shangai. A cidade tem uma das maiores áreas construídas do mundo no shopping New Century Global Centre, inaugurado em 2013. O prédio tem 500 metros de profundidade, 400 de largura e 100 de altura, tudo em vidro e concreto. Isso tudo resulta numa construção de 1,7 milhão de metros quadrados, na qual caberiam 20 óperas iguais à de Sydney, na Austrália. O resultado é assustador. No link a seguir, é possível fazer um passeio pelo prédio: Let’s Go For A Walk Inside the Largest Building in the World.
Todos esses projetos têm embutido uma operação de marketing da nova China, é claro. Ditaduras adoram usar arquitetura para parecerem simpáticas ao mundo. No caso da cidade sem carro de Chengdu, tudo indica que há inovação além da velha propaganda.
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